Eleonora Menicucci, a Ministra das Mulheres, assim nomeada pela
Presidente Dilma, confessa que já treinou aborto por sucção mesmo não sendo médica. Mais: Ela se considera avó de um neto, mas também de um aborto. Veja matéria:
13/02/2012
No
dia 14 de outubro de 2004, a então apenas professora Eleonora Menicucci, que
tomou posse como ministra das Mulheres na semana passada, concedeu uma
entrevista a uma interlocutora chamada Joana Maria. O texto está nos arquivos
da Universidade Federal de Santa Catarina (a íntegra está aqui). Já fiz uma cópia de segurança porque essas coisas costumam
desaparecer quando ganham publicidade. Está certamente entre as coisas mais
estarrecedoras que já li. De sorte que encerro assim este primeiro parágrafo:
se um torturador vier me dar a mão, eu a recuso, cheio de asco. Se a ministra
Eleonora vier me dar a mão, eu me comportarei da mesma maneira, com o estômago
igualmente convulso.
Antes que entre propriamente no
mérito, algumas considerações. Aqui e ali, tenta-se caracterizar a ministra
como uma espécie de defensora apenas intelectual do aborto, apegada à causa no
universo conceitual, retórico, de sorte que a sua nomeação não representaria um
engajamento da presidente Dilma Rousseff e de governo na causa do aborto.
Falso! Falso e na contramão dos fatos. Alguns parlamentares, notadamente da
bancada evangélica, fizeram duros discursos contra a ministra e foram
caracterizados pela imprensa como uns primitivos ideológicos. Então vamos
ver se a ministra está com a civilização…
Abaixo, transcrevo alguns trechos
daquela sua entrevista, concedida quando ela já estava com 60 anos.
Não se pode dizer que o diabo da imaturidade andava soprando em seus ouvidos.
Não! Eleonora confessa na entrevista que não é apenas “abortista” — termo a que
os ditos progressistas reagem porque o consideram uma pecha, uma mácula. Ela
também é aborteira. Viajou pela sua ONG à Colômbia para aprender a fazer aborto
por sucção, o método conhecido como AMIU (Aspiração Manual Intra-Uterina).
Deixa claro que o objetivo de seu trabalho é fazer com que as pessoas se
“autocapacitem” para o aborto, de sorte que ele possa ser feito por
não-médicos. É o caso dela! Atenção! DILMA ROUSSEFF NOMEOU PARA O MINISTÉRIO
DAS MULHERES uma senhora que defende que o aborto seja uma prática quase
doméstica, sem o concurso dos médicos. Por isso ela própria, uma leiga, foi
fazer um “treinamento”. Não! Jamais apertaria a mão de torturadores. E jamais
apertaria a mão de dona Eleonora por isto aqui (volto depois)
“ESTIVE
TAMBÉM FAZENDO UM TREINAMENTO DE ABORTO NA COLÔMBIA, POR ASPIRAÇÃO”
Eleonora - Dois anos Aí, em São Paulo, eu integrei
um grupo do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. ( ). E, nesse período, estive
também pelo Coletivo fazendo um treinamento de aborto na Colômbia.
Joana –
Certo.
Eleonora –
O Coletivo nós críamos em 95.
Joana – Como é que era esse curso de aborto?
Eleonora –
Era nas Clínicas de Aborto. A gente aprendia a fazer aborto.
Joana –
Aprendia a fazer aborto?
Eleonora –
Com aspiração AMIU.
Joana –
Com aquele…
Eleonora – Com a sucção.
Joana –
Com a sucção. Imagino.
Eleonora –
Que eu chamo de AMIU. Porque a nossa perspectiva no Coletivo, a nossa base…
Joana - é que as pessoas se auto auto-fizessem!
Eleonora –
Autocapacitassem! E que pessoas não médicas podiam…
Joana – Claro!
Eleonora –
Lidar com o aborto.
Joana –
Claro!.
Eleonora –
Então vieram duas feministas que eram clientes, usuárias do Coletivo, as quais
fizeram o primeiro auto-exame comigo. Então é uma coisa muito linda.
Joana –
Hum.
Eleonora –
Muito bonita! Descobrirem o colo do útero e…
Joana – Hum.
Eleonora –
Ter uma pessoa que segura na mão.
Joana –
Certo.
“NÓS DECIDIMOS, EU E O PARTIDO,
QUE EU DEVERIA FAZER UM ABORTO”
Num outro trecho, Eleonora conta
como ela e o seu partido, o POC (Partido Operário Comunista), tomaram uma
decisão: ela deveria fazer um aborto. Tratava-se apenas de uma questão…
política!
Eleonora - Porque a minha avaliação era que eu tinha que
fazer
Joana - a luta armada aqui.
Eleonora – a luta armada aqui. E um
detalhe importante nessa trajetória é que, seis meses depois de essa minha
filha ter nascido, eu fiquei grávida outra vez. Ai junto com a organização nós
decidimos, a organização, nós, que eu deveria fazer aborto porque não era possível
Joana - Certo.
Eleonora
– Na
situação ter mais de uma criança, né? E eu não segurava também. Aí foi o
segundo aborto que eu fiz.
“EU TIVE MINHA PRIMEIRA RELAÇÃO
COM MULHER. E TRANSAVA COM HOMEM; ESTAVA COM MEU MARIDO”
Falastrona e ególatra, como já apontei
aqui, ela faz questão de contar na entrevista que teve a sua primeira relação
homossexual quando ainda estava casada. Era o seu mergulho no que ela entende
por feminismo.
Eleonora – Aí já nessa época eu radicalizei meu
feminismo. Eu comecei a militar.
Joana –
Onde?
Eleonora –
Em Belo Horizonte, eu comecei a militar neste grupo.
Joana –
Neste mesmo grupo?
Eleonora –
É
Joana –
O que se fazia além de discutir?
Eleonora –
Nós discutíamos o corpo.
Joana –
Certo.
Eleonora –
Discutíamos a sexualidade. Eu tive a minha primeira relação com mulher também.
Joana –
Hum.
Eleonora –
Quer dizer que foi bastante precoce pra essa E
transava com homem.
Joana –
Certo.
Eleonora – Pra minha trajetória
Joana – Mesmo porque tu também estavas com o
teu marido eu acho, não estavas?
Eleonora – Sim, sim.
Joana – Estavas. Ah
Eleonora – Mas nós nunca tivemos esse E ele era um cara muito
libertário. Nós nunca tivemos essa questão de relação
Joana:
Certo.
“SOU MUITO AMIGA DO FREI BETTO.
ELE ME PÔS NO CENTRO DE DIREITOS HUMANOS DA DIOCESE DE JOÃO PESSOA”
Ora, qual é o lugar ideal para
uma humanista desse quilate trabalhar? Frei Betto — sim, aquele… — deu um jeito
de arrumar para ela um emprego na Arquidiocese de João Pessoa:
Eleonora – E aí, no início de 78, eu já tinha me
separado do meu ex-marido e resolvo sair de Belo Horizonte. Aí quando eu saio de Belo
Horizonte eu busco um lugar bem longe porque eu não queria mais ser referência
para a esquerda.
( )
Eleonora – E eu não podia. Então eu procurei
isso. Sou muito amiga, por incrível que pareça, a vida inteira, do Frei Betto e
pedi a ele pra me encontrar um lugar o mais longe possível de Belo Horizonte.
Aí ele falou “Eu tenho dois lugares onde a Diocese é muito aberta: em Vitória,
com Dom Luís, ou em João Pessoa, com Dom José Maria Pires. Eu falei: “Eu quero
João Pessoa”, quanto mais longe melhor.
( )
Eleonora – É Mas,
assim, eu cheguei, eu. Eu tive que construir minha vida.
Joana -
Hum. Foste trabalhar?
Eleonora –
No Centro de Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba.
Joana –
Tá legal.
Eleonora –
E aí eu comecei a trabalhar com as mulheres rurais de Alagamar, que era o que
eu queria ( ) Logo depois,
retomei um grupo, a minha atividade de grupo de reflexão feminista com algumas
mulheres em João Pessoa. A maioria de fora de João Pessoa e duas de dentro Então nós criamos o primeiro
grupo feminista lá em João Pessoa. Chamado Maria Mulher.
( )
Eleonora – É. “Quem ama não mata” e “O silêncio
é cúmplice da violência”, e aí começamos a nos articular dentro do Nordeste.
Joana – Tá.
Eleonora – Era o SOS Mulher. O SOS Corpo e um
grupo de reflexão que tinha em Natal
Joana: Hum.
Eleonora –
De auto-reflexão. E no Maria Mulher, o que é que nós fazíamos? Nós fazíamos
auto-exame de colo de útero, auto-exame de mama.
( )
Eleonora – Depois, em 84, eu venho pra São Paulo
fazer doutorado em Ciência Política, já articuladíssima…
Joana-
Imagino…
Eleonora –
com o feminismo e com linhas de pesquisa bem definidas do ponto de vista
feminista.
Joana –
Quem é que te orientou em São Paulo?
Eleonora –
Em São Paulo, foi a Maria Lúcia Montes, uma antropóloga. Embora, na época, ela
fosse da Ciência Política. E, em 84, eu entro para o doutorado com uma tese que
era sobre Direitos Reprodutivos e Direitos Sexuais a partir É a construção da cidadania a
partir do conhecimento sobre o próprio corpo.
Joana -
Isso por conta do teu trabalho com as mulheres?
Eleonora –
Por conta do meu trabalho com as mulheres em uma favela chamada Favela
Beira-Rio.
Joana –
Certo.
Eleonora –
Lá em João Pessoa.
Joana –
Hum.
Eleonora -
Que hoje é um bairro. Então nesta época eu fiquei quatro anos em São Paulo
fazendo a tese e voltando a João Pessoa. ( )
E aí fui coordenadora do grupo de Mulher e Política da ANPOCS, do GT.
Joana:
Hum.
“EU
TINHA ATITUDES MASCULINAS ( ) ERA DECIDIDA, DETERMINADA, FORTE, SABIA ATIRAR”
Neste trecho, ela revela como enxergava — enxergará ainda?
— os papéis masculino e feminino. Ah, sim: ela sabia “atirar”. Afinal, não se
tenta impor uma ditadura comunista no país só com bons sentimentos, não é?
Joana - Já. E com relação às organizações das quais tu
participavas?
Eleonora
- Ah, primeiro
que as mulheres dificilmente chegavam a um cargo de poder
Joana - Mas tu eras a chefe?
Eleonora - Eu era. Fui uma das poucas. Por quê?
Eu me travesti de masculino
Joana - É? Como era?
Eleonora
- Eu tinha
atitudes masculinas ( )
Era decidida, determinada, forte, sabia atirar
Joana - Huuunnnn.
Eleonora – Entendeu?
Joana - Entendi.
Eleonora –
Sendo que muitas mulheres sabiam isso tudo.
Joana - Certo.
Eleonora –
Transava com vários homens.
Joana - Certo.
Eleonora - Essa questão do desejo e do prazer
sempre foi uma coisa muito libertária pra mim, e por isso eu fui muito
questionada dentro da esquerda.
Joana - É?
Eleonora - É.
Joana - Dentro
do mesmo grupo do qual tu eras a líder?
Eleonora - Sim. Porque o próprio Por questões de segurança, eu
só poderia ter relação sexual com os companheiros da minha organização.
Joana - Certo.
Eleonora
- Num determinado
momento, sim, mas na história do movimento estudantil, também já existia isso.
“EU TIVE MUITAS REFLEXÕES COM
MINHAS AMIGAS NA CADEIA; UMA DELAS, A DILMA”
Neste outro trecho, a gente fica
sabendo que Dilma Rousseff foi sua companheira também nas reflexões sobre o
feminismo.
Eleonora - E, depois, imediatamente eu quis ter outro
filho
Joana - Hum.
Eleonora - E muito no sentido de pra provar para
os torturadores, mesmo que fosse simbolicamente, que o que eles tinham feito
comigo não tinha me tirado a possibilidade de reproduzir e de ter uma escolha
sobre meu próprio corpo
Joana - Hum.
Eleonora - Então eu tive mais um filho e logo que
ele nasceu também de cesária eu me laqueei.
Joana –
Certo.
Eleonora – Então Eu tinha , Eu fui presa com 24 para 25
mais ou menos.
Joana – Nossa Senhora!.
Eleonora -.E
sai com 30.
Joana –
Certo.
Eleonora -
Assim, da história toda e com 30 para 31, tive o meu segundo filho e fiz a
laqueadura de trompas
( )
Joana – E então, tu saíste da cadeia
em 74.
Eleonora –
Certo.
Joana – Tu tiveste algum contato com o feminismo
dentro da cadeia, com leituras feministas.
Eleonora – Não.
Joana –
Ou depois?
Eleonora - Não, não. Ao longo da cadeia
eu tive Durante a cadeia?
Eu tive muitas reflexões com as minhas companheiras de cadeia
Joana – Tá.
Eleonora –
Uma delas é a Dilma Roussef.
( )
Joana – Fizeram uma espécie de grupo de
consciência?
Eleonora -
Grupo de reflexão lá dentro.
Joana –
Grupo de reflexão.
( )
Eleonora – Porque eu já saí É.. Eu já saí em 74, eu saí em
outubro.
Joana –
Certo.
Eleonora –
No dia 12, Dia da Criança, eu saí já bem claro que eu era feminista.
Joana –
Certo.
Eleonora –
E, logo que eu saí da cadeia, eu em Belo Horizonte, fui procurar um grupo de
mulheres.
Joana –
Esses grupos de consciência?
Eleonora -
É, só que era um grupo de lésbicas.
Joana –
Certo.
Eleonora –
E eu não sabia. Era um grupo de pessoas amigas minhas.
( )
Eleonora – Porque eu voltei a estudar!
Joana -
Ah, legal!
Eleonora –
Eu parei de estudar em 68.
Joana –
Huuummm.
Eleonora –
Eu parei no quarto ano de Medicina e no quarto de Ciências Sociais.
Joana -
Foste concluir?
Eleonora – Fui, aí eu voltei pra concluir.
Joana – Certo.
Eleonora - Na UFMG, e optei por acabar
Sociologia.
“SOU AVÓ DE UMA CRIANÇA NASCIDA
POR INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL NA MÃE LÉSBICA; E TAMBÉM SOU AVÓ DO ABORTO”
Finalmente, destaco outro
momento de grande indignidade na fala desta senhora. Ao se dizer avó de um neto
gerado por inseminação numa filha lésbica e também “avó do aborto”, não só
expõe a sua vida privada e a de seus familiares como, é inescapável constatar,
demonstra não saber a exata diferença entre a vida e a morte. Leiam. Volto para
encerrar.
Eleonora – E eu digo que a questão feminista é tão
dentro de mim, e a questão dos Direitos Reprodutivos também, que eu sou avó de
uma criança que foi gerada por inseminação artificial na mãe lésbica.
Joana – Hum, hum.
Eleonora – Então eu digo que sou avó da
inseminação artificial.
Joana: (risos)
Eleonora –
Alta tecnologia reprodutiva. E aí eu queria colocar a importância dessa
discussão que o feminismo coloca no sentido do acesso às tecnologias
reprodutivas.
Joana –
Certo.
Eleonora –
Entendeu? E eu diria: “Eu fiz dois abortos e também digo que sou avó do aborto
também porque por mim já passou.
Joana –
Sim.
Eleonora – Também já passou nesse sentido. E
diria que eu sou uma mulher muito feliz e muito realizada. E eu pauto em duas
questões: na minha militância política e no feminismo.
Encerro
É isso aí. Ao nomeá-la ministra, Dilma escolheu sua trajetória,
suas idéias, suas práticas. Peço a vocês que comentem com a fleuma necessária.
É preciso que se evidencie, com a
devida serenidade, que
uma aborteira informal e confessa não pode ter lugar na Esplanada dos
Ministérios. A sua entrevista como um todo evidencia um pensamento torto. É
inconcebível que esta senhora seja considerada uma articuladora de políticas
públicas depois da confissão que fez. Até porque, se estivesse no Brasil, não
na Colômbia, seu lugar seria a cadeia — em pleno regime democrático, sim,
senhores! É o fundo do poço.
Por Reinaldo Azevedo
Fonte: