A medicina cubana - um modelo?
Na semana passada, a CNN
exibiu uma reportagem que mais parecia uma propaganda do Partido Comunista
falando como Cuba poderia servir de 'modelo para a reforma do sistema de saúde
dos EUA'.
A reportagem da CNN incluía
cenas do filme Sicko, de Michael Moore, ao mesmo tempo em que o
repórter, falando in loco de um hospital de Havana, emanava
entusiasmo sobre as "impressionantes estatísticas" do sistema de
saúde cubano. "A mortalidade infantil em Cuba", dizia o efusivo
repórter, "é a menor do hemisfério, junto à do Canadá!".
"Incrível!",
provavelmente suspirou o tipo de pessoa que assiste a CNN hoje em
dia. A prova perfeita do "Sim, nós podemos!". Não é
de se estranhar que Colin Powell tenha dito que "Castro fez algumas coisas
boas para seu povo!". Não é de se estranhar também que Michael Moore
seja objeto de desdém daqueles detestáveis cubanos radicados em Miami! Antes de
Fidel Castro, apenas estes seres desprezíveis podiam bancar seus próprios
médicos, ao passo que a massa de famélicos cubanos definhava na doença e na
pobreza!
por Humberto Fontova, quarta-feira, 12 de agosto de 2009
por Humberto Fontova, quarta-feira, 12 de agosto de 2009
E, de fato, de acordo com os números da
ONU, a atual taxa de mortalidade infantil de Cuba coloca o país na 44ª posição
no ranking, bem ao lado do Canadá. Mas o que a CNN deixou de lado é que, de
acordo com essas mesmas estatísticas da ONU, em 1958 (o ano anterior à gloriosa
revolução) Cuba figurava na 13ª posição, mundialmente. Isso significa que
a Cuba pré-Fidel, robustamente capitalista, tinha a 13ª menor taxa
de mortalidade infantil do mundo. Isso colocava o país não apenas no topo
da América Latina, mas também acima de grande parte da Europa Ocidental, à
frente da França, Bélgica, Alemanha Ocidental, Israel, Japão, Áustria, Itália,
Espanha e Portugal.
Hoje, todos esses países deixam a Cuba
comunista comendo poeira, com taxas de mortalidade infantil muito menores. E
mesmo despencando da 13ª posição (quando capitalista) para a 44ª (agora
comunista), a "impressionante" mortalidade infantil cubana é mantida
artificialmente baixa pelas trapaças estatísticas do Partido Comunista e por
uma taxa de aborto verdadeiramente pavorosa: 0,71 abortos para cada feto
nascido vivo. Essa é, de longe, a taxa mais alta do hemisfério. Em
Cuba, qualquer gestação que sequer insinue alguma complicação é
"terminada".
Também digno de nota, de acordo
com a Associação dos Médicos e Cirurgiões Americanos, a taxa de mortalidade das
crianças cubanas com idade entre um e quatro anos é 34% maior do que a dos EUA
(11,8 versus 8,8 por 1.000). Mas esses números - por uma questão de
critério - não figuram nas notórias "taxas de mortalidade infantil" da
ONU e da Organização Mundial de Saúde. Portanto, não há pressão sobre os
médicos cubanos para que eles falsifiquem esses números - por enquanto.
Em abril de 2001, o Dr. Juan Felipe García, de Jacksonville, Flórida, entrevistou vários médicos que haviam desertado recentemente de Cuba. Baseado no que ouviu, ele declarou o seguinte: "Os números oficiais da mortalidade infantil de Cuba são uma farsa. Os pediatras cubanos constantemente falsificam os números a pedido do regime. Se um bebê morre durante seu primeiro ano de vida, os médicos declaram que ele era mais velho. Caso contrário, tal lapso pode custar-lhe severas punições, além do seu emprego."
O que é ainda mais interessante (e
trágico): a taxa de mortalidade materna em Cuba é quase quatro vezes maior que
a dos EUA (33 versus 8,4 por 1.000). Não deixa de ser algo bem peculiar o
fato de que tantas mães morrem durante o parto, assim como tantas crianças de
um a quatro anos, e, ao mesmo tempo, os bebês com menos de um ano (período
durante o qual eles são classificados como bebês pelas estatísticas da ONU) são
perfeitamente saudáveis! Tal contradição poderia impelir algumas pessoas a
questionar os números oficiais da mortalidade infantil cubana.
Porém, se
fizessem isso, tais pessoas jamais iriam conseguir um escritório em Havana para
suas agências de notícias, e muito menos um visto para filmar um documentário. 99% dos cubanos não têm a mínima
experiência com hospitais como aqueles que Michael Moore mostrou em Sickoe
o repórter da CNN visitou emocionado. A maioria dos cubanos vê esses
hospitais da mesma maneira que adolescentes veem a Playboy e
os maridos veem o catálogo da Victoria's Secret: "Ah, se eu pudesse...“
A propaganda castrista contida
em Sicko enfureceu de tal forma as pessoas que foram amaldiçoadas
pelo destino a viver nas terras feudais de Fidel que elas resolveram arriscar
suas vidas: utilizando câmeras ocultas, elas foram filmar as condições dos
genuínos hospitais cubanos, na esperança de que pudessem alertar o mundo que o
filme de Moore era uma trapaça a serviço da propaganda do regime stalinista.
A um enorme risco, duas horas de cenas
chocantes - e quase sempre revoltantes - foram coletadas por minúsculas
câmeras, contrabandeadas para fora de Cuba e entregues ao exilado cubano George
Utset, que administra o soberbo e revelador website The Real Cuba (você
realmente deve clicar ali e ver todas as fotos, clicando em cada uma delas para
ampliar). O homem que assumiu a maior parte dos riscos durante a filmagem
e que fez a exportação clandestina foi o dissidente cubano - e também médico -
Darsi Ferrer, que também se dispôs a falar durante as filmagens, narrando
grande parte das revelações do vídeo. O Dr. Ferrer trabalha diariamente
nesses hospitais genuinamente cubanos, onde sempre testemunha a verdade.
E o que é mais importante: ele não foi intimidado a revelar essa verdade para o
resto do mundo - ele fez tudo espontaneamente.
Originalmente, a rede americana
ABC planejou mostrar as repugnantes cenas em sua totalidade durante o programa
de John Stossel, 20/20. Acontece que, no dia 12 de setembro de 2007, o
20/20 mostrou apenas um minúsculo segmento sobre o "real" sistema de
saúde cubano, que durou escassos 5 minutos e com praticamente nenhuma das cenas
que foram contrabandeadas. O que aconteceu? Bem, o regime fidelista ficou
sabendo desses vídeos e imediatamente entrou em contato com o escritório da ABC
em Havana, enfatizando que a "licença operacional" da ABC no país
poderia sofrer "escrutínios intensos" caso eles levassem as imagens
ao ar.
A ABC (e, sim, também Stossel, uma pessoa
que em outras ocasiões sempre admiramos) se acovardou. Entra em cena a Fox News
e o apresentador Sean Hannity. Esse humilde servo entrou em contato com
os produtores de Hannity para falar a respeito dos vídeos, e eles imediatamente
se prontificaram a examinar o material. Depois de algumas horas o
programa foi ao ar. Você pode ver aqui. E aqui.
Os telespectadores da Fox puderam ver pacientes nus cobertos por moscas
enquanto deitados em "leitos hospitalares" que consistiam de colchões
sem qualquer forro. Puderam ver também prédios e instalações que seriam
condenados por qualquer agência sanitária servindo como
"hospitais".
Eles viram e ouviram o Dr. Darsi Ferrer -
junto com outros cubanos entrevistados - descrever a impossibilidade de
conseguir algo tão básico como aspirinas. "Ganância" era o que
Michael Moore estava combatendo em Sicko, correto?
"Ganância" é o que Obama quer abolir, certo? Bem, o vídeo mostra
burocratas do regime castrista dizendo aos cubanos que aspirinas e outros
remédios só poderiam ser disponibilizados se eles pagassem em dólares
americanos - e não em pesos cubanos, os quais eles desesperançosamente
portavam.
Humberto Fontova é
o autor de Fidel: Hollywood's Favorite Tyrant e O Verdadeiro Che Guevara e os Idiotas Úteis que o Idolatram.
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque