Em entrevista concedida ao repórter Geneton Moraes Neto, do canal Globo News, veiculada em setembro de 2010, o cantor e compositor Geraldo Vandré revela detalhes sobre sua retirada do cenário musical brasileiro e desmente as afirmações que os esquerdistas difundiram durante décadas, sobre sua afinidade com a militância de esquerda, sobre suas músicas serem de protesto, sobre ele ser um antimilitarista, ou ainda se ele foi vítima de perseguições ou torturas promovidas pelos militares.
Para os bons observadores, será fácil verificar a posição tendenciosa do entrevistador, quando antes de determinadas perguntas ele faz uma afirmação atribuída a Vandré, e o cantor de imediato nega, mas instantes depois o famigerado entrevistador repete a mesma afirmação, como se Vandré fosse aceitar a calúnia, se contradizendo. Veja a seguir alguns trechos da entrevista transcritos do portal G1, com notas em vermelho deste blog:
Geneton: A decisão de interromper
a carreira,então, foi – de certa maneira – um PROTESTO (o repórter insinua, utiliza o termo PROTESTO) contra o que você via
como “massificação” da sociedade brasileira ?
Vandré: “Não. O que houve
foi muito mais uma falta de motivo, uma falta de razão para cantar. PROTESTO,NÃO (Vandré nega): falta de razão, falta de porquê. Estou
fazendo o que acho que devia fazer”.
Geneton: Se você fosse escrever
um verbete numa enciclopédia sobre Geraldo Vandré qual seria a primeira frase ?
Vandré: “Criminoso (ri)”.
Geneton: Por quê ?
Vandré : “O que você chama de governo ainda me tem como ANISTIADO por haver cantado as canções que cantei. Fui demitido do serviço
público por causa das canções. O que se apresenta como governo no Brasil até
hoje cobra impostos sobre o “corpo de delito” que foram as canções que fiz. Deu
para entender agora ? “.
Geneton:Você foi punido pelo
governo da época, perdeu o emprego público…
Vandré: “Fui demitido. Depois, retornei. Briguei, briguei,
briguei..”
Geneton: Em algum momento, você foi considerado
“criminoso”…(mais uma insinuação do repórter)
Vandré: “Fui demitido
por causa da canção. E essa canção que foi motivo de minha demissão até hoje
é…Voltei por força de um despacho dado com fundamento na Lei de ANISTIA, como SE eu fosse CRIMINOSO. ANISTIA É PARA CRIMINOSO – condenado por sentença
transitada em julgado, se ele aceitar. Porque ele pode não aceitar. Aceitar
a anistia significa aceitar-se criminoso, beneficiário
de anistia”.(Vandré deixa claro que não poderia ser considerado criminoso)
Geneton: Você acha que a grande INJUSTIÇA foi esta : em algum momento você ser considerado um criminoso ? (novamente, o repórter tenta colocar palavras na boca de Vandré)
Vandré: “INJUSTIÇA NÃO É A PALAVRA…” (Vandré corrige, se defendendo)
Geneton: Você teria cometido um
“delito de opinião” …
Vandré: “Não. Era
subversão mesmo, sob certos aspectos, porque não
havia nada mais para fazer naquele instante. Não me lembro. Mas as Forças
Armadas, propriamente ditas, entenderam muito melhor do que a sociedade civil. NUNCA
TIVE NENHUM PROBLEMA COM AS FORÇAS ARMADAS PROPRIAMENTE. SEMPRE HOUVE UMA
CONSIDERAÇÃO E RESPEITO ENTRE NÓS”. (Vandré nega divergências com os militares)
Geneton: Hoje, você nega que
tenha sido em algum momento um ANTIMILITARISTA (mais uma insinuação infame do repórter) nos anos sessenta ?
Vandré: “NUNCA FUI ANTIMILITARISTA. Nunca assumi tal posição. Fui lá e falei o que queria
dizer, numa canção que foi dita e cantada no Brasil diante de todo mundo. A
CANÇÃO FOI CANTADA PARA OS SOLDADOS, TAMBÉM”. (mais uma prova de que não havia divergências entre Vandré e os militares)
Geneton: O GRANDE EQUÍVOCO (outra insinuação do descarado repórter) sobre
Geraldo Vandré foi este : achar que você era ANTIMILITARISTA ?
Vandré : “NÃO HOUVE, NA REALIDADE, UM GRANDE EQUÍVOCO (Vandré rebate a insinuação do tendencioso repórter). Houve uma
GRANDE MANIPULAÇÃO* (manipulação, ou seja, invencionices, falsas verdades, sem dúvida, por parte dos maiores interessados, os esquerdistas) porque, quanto MAIS PROIBIDO, mais sucesso fazia; mais se
vendia; menos conta se prestava. É uma questão muito séria”. (muito séria, no sentido de afirmarem coisas que Vandré nunca afirmou)
Geneton: É verdade que você ficou
escondido na casa da família Guimarães Rosa antes de ir para o exílio ?
Vandré: “Eu saí de
circulação. Depois que o tempo foi passando, as coisas vão ficando claras: AS
FORÇAS ARMADAS PROPRIAMENTE DITAS NÃO TINHAM NADA CONTRA MIM. NÃO TOMARAM
NENHUMA INICIATIVA CONTRA MIM (nova afirmação de que não havia divergências entre ele e os militares). Quando fecharam o Congresso Nacional, no dia 13
de dezembro de 1968, eu estava indo para Brasília para fazer um
espetáculo.Evidentemente, suspendemos o espetáculo. Vim de carro – guiando –
até São Paulo. Eu estava à mão das Forças Armadas….Nunca deixei de estar. Mas
claro que algo poderia acontecer: ao andar à toa pela rua, eu poderia de
repente encontrar um “guardinha de trânsito” que quisesse fazer média. Há
sempre alguém que quer tirar proveito de situações assim. Para evitar, saí de
circulação. Durante um tempo, estive na casa de Dona Aracy (viúva de Guimarães Rosa – que tinha
morrido meses antes). Fiquei lá porque, quando vinha para o Rio,
como não tinha casa aqui, sempre ficava na casa de amigos e de pessoas
conhecidas”.
Geneton: Você foi CONSTRANGIDO (outra insinuação do repórter) a
gravar, em 1973, um depoimento em que NEGAVA QUE FOSSE MILITANTE POLÍTICO (o repórter insinua que Vandré se considerava militante político). Qual
foi o peso deste depoimento na decisão de Geraldo Vandré de interromper a
carreira ?
Vandré: “NUNCA FUI
CONSTRANGIDO A DECLARAR QUE NÃO TIVE MILITÂNCIA POLÍTICA. NUNCA
TIVE MILITÂNCIA POLÍTICO-PARTIDÁRIA. NUNCA PERTENCI A NENHUM PARTIDO. NUNCA FUI
POLÍTICO PROFISSIONAL. NÃO FUI OBRIGADO A DIZER QUE NÃO ERA MILITANTE. NUNCA
FUI MILITANTE POLÍTICO (Vandré derruba as insinuações do repórter cara-de-pau). Nesta contemporaneidade em
que estamos, eu me lembrei de um professor de Filosofia que dizia: “O homem é
um animal político”. Sou uma qualidade de animal político que não depende de
eleição. Vamos estudar a diferença entre política e eleição ?”.
Geneton: O depoimento criou
espanto na época, porque – de certa maneira – ERA VOCÊ NEGANDO A MILITÂNCIA
POLÍTICA… (com extremo cinismo, o inconveniente repórter insiste na mesma insinuação de antes, na esperança de que Vandré se contradiga)
Vandré: “NUNCA FUI MILITANTE. Se engajamento político é
pertencer a um partido, nunca pertenci a nenhum. NUNCA FUI ENGAJADO POLITICAMENTE” (Vandré é obrigado a rebater novamente a mesma insinuação, com toda a sua paciência).
Geneton: Você obrigado a gravar
este depoimento ? Fazia parte do acordo para voltar para o Brasil ?
Vandré: “Queriam que eu fizesse uma declaração. Não me lembro o
que foi que disse. Mas eu disse coisas que poderia dizer. O QUE EU DISSE ERA VERDADE (como seus depoimentos nesta entrevista, contrariando as falsas verdades que o entrevistador insistiu que Vandré confirmasse). Não disse nada que não tenha querido dizer. A TV Globo deve ter isso. Procure
lá…”
Geneton: A gente procurou e não
encontrou…. (será que procuraram mesmo?)
Vandré: “Pois é: somem com tudo. Que loucura essa…Por quê
? (fica claro aqui a suspeita de Vandré, semelhante a anteriormente citada GRANDE MANIPULAÇÃO* da verdade). Veja se acha o vt do Maracanãzinho. É o que tem Tom Jobim. É o mesmo vt. A
minha parte SUMIU. Por quê ? (novamente, a indagação que levanta suspeitas na mente de Vandré e de todos) Fizeram uma retrospectiva do Festival. Botaram o
Festival no Maracanãzinho- Tom,Chico, todo mundo, Cynara e Cybele. Mas,na hora
de botar o Geraldo Vandré, usaram um filme feito na Alemanha, em que eu estava
de barba. Não é certo”… (afirmação de que houve MANIPULAÇÃO do citado vídeo)
Geneton: Talvez tenham recolhido
o filme… (o repórter joga mais uma de suas insinuações infundadas, para Vandré engolir)
Vandré: “Para mim, é muito difícil acreditar que a TV Globo
tenha se desfeito do filme. Não acredito. Devem estar guardando muito bem
guardado” (neste ponto, Vandré deixa claro sua convicção de que a Globo tem o vídeo, mas não revela, pois ficaria evidente para quem assisti-lo que houve adulteração no conteúdo, conforme ele diz).
Geneton: O grande mistério que
existe sobre Geraldo Vandré durante todas essas décadas é, afinal de contas, o
que aconteceu com ele depois da volta do exílio: VOCÊ FOI MALTRATADO
FISICAMENTE ? (as ditas "sessões de torturas", atribuídas aos militares contra os esquerdistas. Novamente, o irritante entrevistador levanta a questão da relação entre Vandré e os militares, que ele já esclareceu repetidamente)
VANDRÉ: “NÃO.NÃO” (o paciente Vandré, pela enésima vez, refuta a calúnia).
Geneton: Para efeito de registro
histórico: VOCÊ, PRIMEIRO, NÃO SE CONSIDERA ANTIMILITARISTA…
VANDRÉ: “NÃO…”
Geneton: Segundo: VOCÊ NÃO FOI
MALTRATADO FISICAMENTE DURANTE O REGIME MILITAR…
VANDRÉ: “NÃO…”
Geneton: Terceiro: você disse o
que quis no depoimento que você foi forçado a gravar quando voltou do exílio…
Vandré: “E em quarto: há
o Quarto Comando Aéreo Regional…TENHO UMA CANÇÃO PARA O “EXÉRCITO AZUL”, A
FORÇA AÉREA (aqui, Vandré revela a sua estima pela Força Aérea Brasileira). A aviação é muito bonita. A loucura é a aviação. Porque a
maior loucura do homem é voar. Conhece loucura maior do que esta ? Não existe”.
Geneton: O fato de VOCÊ TER
COMPOSTO UMA MÚSICA EM HOMENAGEM À FORÇA AÉREA criou um certo espanto (talvez espanto para aqueles que acreditaram na mentira de que Vandré tenha sido hostilizado pelos militares, acusado de ser militante de esquerda, tendo como base a outra mentira de que militantes de esquerda deveriam ser torturados sumariamente pelos militares). Hoje,
você se hospeda em hotéis da Aeronáutica, como este. Nós estamos num ambiente
militar…
Vandré :”Relativamente (um fato pode causar espanto a alguns e a outros não), porque este é um instituto de direito
privado…” (o espanto causado apenas aos idiotas que foram manipulados. Resposta inteligentíssima de Vandré)
Geneton: Houve alguma MUDANÇA NA
POSTURA DO GERALDO VANDRÉ OU NÃO EM RELAÇÃO ÀS FORÇAS ARMADAS ? (pergunta sem lógica, pois Vandré já esclareceu que nunca teve problemas com os militares)
Vandré : “O que houve foi o RECONHECIMENTO DE UMA PARTE DA
SOCIEDADE (os idiotas que acreditaram nos esquerdistas espalhadores de mentiras) QUE NUNCA TINHA TIDO OPORTUNIDADE DE SABER REALMENTE (a verdade) QUAIS ERAM AS
MINHAS POSIÇÕES” (pelo fato de omitirem o discurso de Vandré no vídeo gravado no Maracanazinho).
Geneton: Você tem planos de
gravar a MÚSICA QUE VOCÊ FEZ EM HOMENAGEM À FAB ? (o derrotado entrevistador tendencioso tenta mais uma vez pôr em dúvida as convicções de Vandré em relação aos militares, como se ele houvesse mudado de opinião atualmente)
Vandré: “CLARO (reafirma sua posição anterior). Já fizemos uma apresentação numa festa da Força
Aérea em torno das comemorações da Semana da Asa, em São Paulo, com um coral de
trezentos infantes. Uma coisa muito bonita. Com o tempo, vamos ver quais são
alternativas que se colocam”.
Geneton: Você DECLAROU ALGUMAS
VEZES : “GERALDO VANDRÉ NÃO EXISTE MAIS….” (mais uma insinuação infundada)
Vandré: “NÃO, NÃO DECLAREI (ele desmascara mais esta enganação). Eu disse que ele
não canta no Brasil comercialmente. Apresentei uma canção para a Força Aérea do
Brasil. Não canto comercialmente no Brasil porque os problemas todos que tive
de enfrentar resultaram de especulações comerciais: vendas clandestinas, câmbio
negro, tudo isso. Quanto mais se proibia,mais se vendia. A sociedade, às vezes,
tem essa doença”.
Geneton: O que é que levou você a
fazer uma música em homenagem à FAB, a Força Aérea Brasileira (o repórter se faz de idiota ao formular esta pergunta, pois Vandré já esclareceu sua relação com os militares), você, QUE ERA
TIDO NOS ANOS SESSENTA COMO ANTIMILITARISTA ?
Vandré: “ERA TIDO. POR
QUEM ? (ele não quer se referir diretamente aos esquerdistas, caluniadores) ISSO DEVERIA SER PERGUNTADO PARA OS QUE A MIM ME TINHAM COMO
ANTIMILITARISTA. NÃO SOU MILITARISTA. MAS TAMBÉM NÃO SOU ANTI. Todos
os países soberanos do mundo têm suas forças armadas. O que é que devemos fazer
com as nossas ? Entregá-las para outras pessoas ? Vamos fazer isso ? Acho que não!
Chamo de “Fabiana” porque nasceu na FAB. Costumamos dizer assim:
uma servidora da FAB é “Fabiana”. A letra diz : “Desde os tempos distantes de
criança numa força,sem par, do pensamento teu sentido infinito e resultado do
que sempre será meu sentimento/todo teu/todo amor e
encantamento/vertente.resplendor e firmamento/ Como a flor do melhor
entendimento/a certeza que nunca me faltou/na firmeza do teu querer bastante/seja
perto ou distante é meu sustento/
De lamentos não vive o que é querente do teu
ser no passado e no presente/Do futuro direi que sabem gentes de todos os
rincões e continentes/que só tu saber do meu querer silente/porque só tu
soubeste, enquanto infante, das luzes do luzir mais reluzente pertencer ao meu
ser mais permanente”. O refrão é, coincidentemente, um contraponto de “vem/vamos
embora/ que esperar não é saber” : “Vive em tuas asas todo o meu viver/ meu
sonhar marinho / todo amanhecer”.
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Assita ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=FByQWCMZY2s